Ao completar
um centenário da inauguração da Estrada de Ferro Madeira – Mamoré – EFMM
(1912-2012) e no ensejo de avaliar uma trajetória que se passa desde suas
projeções no imaginário, a epopéia de sua construção e etapas de desenvolvimento
e os desdobramentos das discussões sobre os patrimônios materiais e imateriais,
tencionamos realizar um evento cuja finalidade maior seja a de refletir sobre a
necessidade de implantação de uma política de Educação voltada a manutenção e
valorização patrimonial enquanto um processo e conquista da História.
A Estrada de
Ferro Madeira-Mamoré foi projetada enquanto grande e moderno empreendimento
para a região amazônica, com 366
km de trilhos que cortam a floresta ao longo das margens
do Rio Madeira. O que dela restou? O que dela sabemos? O que dela deveríamos
saber? Lições, contradições.
A EFMM se
transformou em importante marco fundador da ocupação da Amazônia, e condutor
central para a constituição do Território Federal que veio a se tornar o atual
Estado de Rondônia. No entanto, sua história está inserida no contexto
internacional da exploração da borracha e nessa dimensão, correspondem a temáticas
múltiplas que vão inicialmente desde aquelas que se estendem a própria estratégia
de expansão do capitalismo, suas conjunturas econômicas, tecnologias, migrações
populacionais regionais e nacionais e que chegou a mobilizar mão de obra
advinda de mais de 50 nacionalidades, e daí muitos conflitos, mortes, doenças, muitas
projeções.
Ao longo
desta Estrada de Ferro nasceram cidades, vilas ferroviárias, foram construídas
pontes, se edificaram hospitais, cemitérios, oficinas, hotéis e, sobretudo, se
constituíram movimentos humanos, experimentos sócias, projeções culturais.
Muitas lições de História.
Por outro lado,
ao longo de sua trajetória, crises e desativações, a Madeira-Mamoré veio a se
tornar um relevante símbolo histórico para a região, implicando em representar
valor de memória e de identidade histórica. Vale lembrar, nessa dimensão, o que
corresponde o seu reconhecimento enquanto patrimônio histórico nacional através
do tombamento por parte do Instituto de Patrimônio Histórico e Nacional (IPHAM)
em 2005.
É nesse
contexto que pomos em destaque, além do seu acervo tombado, um conjunto de vasto
material produzido, a ser avaliado e muitas vezes a ser proposto naquilo que
aqui realçamos enquanto política de educação patrimonial, e preservação.
A este fim se
destina o objetivo deste evento: o de repensar o processo histórico da (des)
construção de imagens, memórias e patrimônios históricos da e sobre a região
amazônica. Contribuindo assim para a formação e promoção de pesquisas ligadas,
não só à História da cidade de Porto Velho, mas também, ao Estado, a região
Norte e a própria História do país.
Para nosso
campo de reflexões acadêmicas é fundamental uma visita aos imaginários
constituídos através de uma historiografia, teses e dissertações, documentos de
acervos institucionais, registros orais, coleções públicas e particulares de
fotografias, filmes, romances, poesias. Representações que merecem ser
conhecidas e disponibilizadas para a pesquisa histórica. E que devem,
sobretudo, para se prestar a uma discussão sobre a importância destes acervos e
arquivos para a História. Debater e repensar os nossos valores e nossas
escolhas para com o histórico, e para os saberes constituídos pela comunidade acadêmica,
e pelos círculos sociais. De modo especial, estamos mobilizando os professores
da rede pública de ensino do estado e do município, e a partir da projeção de
diálogos com os professores de História, de Literatura, Artes, Geografia, do
ensino fundamental e médio, da sociedade em geral, registrando e proporcionando
novas formas de trabalhar e ensinar a História a partir da memória e do
patrimônio histórico.
A Universidade
Federal de Rondônia, instituição de Ensino, Pesquisa e Extensão por excelência,
precisa promover eventos dessa monta e tantos outros que estimulem a pesquisa e
a prática do Ensino na região, de modo a permitir uma maior interação entre a
Academia e a sociedade rondoniense, além de promover momentos para um repensar
sobre as práticas docentes, sobretudo do Ensino de História.
Assim, “O Trem da História. Cem anos da
Madeira Mamoré: Educação, Imaginário e Patrimônio” – compondo a
condição de XIX Semana de História, o I Encontro do Imaginário e o I Encontro
Estadual de História da ANPUH – Seção de Rondônia, visa contribuir para o
necessário envolvimento acadêmico e comunidade docente, quer do Ensino Público,
quer seja do privado, da rede de ensino fundamental e médio, sobretudo em torno
de nossas próprias memórias em torno dos monumentos, práticas e saberes “escolhidos”
como patrimônios históricos constituindo indagações sobre a História desses
próprios patrimônios e daqueles tantos outros deixados ao longo do caminho, ao
longo dos trilhos, abandonados nas estações do esquecimento.
Porto Velho, 20 de junho de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário